Na Amazônia, uma disputa entre cônsul e Ibama pelo livro sagrado
A ação de uma ONG baiana,
presidida pelo cônsul honorário da Holanda em Salvador, numa terra indígena no
Acre, quase na fronteira com o Peru, pôs o Ibama em alerta e se transformou em
mais um rumoroso episódio de suspeita de acesso ilegal ao patrimônio genético
da biodiversidade brasileira. Em jogo, o conteúdo de um livro da etnia
Kaxinawá, com a linguagem e as receitas xamânicas relacionadas a 516 ervas
medicinais, que teriam o poder de curar 386 tipos de doenças tropicais,
especialmente provocadas pelo contato entre o homem e outros animais.
O caso remonta ao ano de
2010, quando o etnomusicólogo brasileiro Ricardo Pamfilio de Souza, financiado
pela ONG Arte, Meio Ambiente, Educação e Idosos (Amei), entrou em contato com o
pajé Augustinho, da Terra Indígena Kaxinawá do Baixo Rio Jordão (AC), uma das
onze áreas oficialmente povoadas pela etnia em solo brasileiro. O Brasil tem
cerca de 6 mil índios Kaxinawá. Outros 4 mil vivem no Peru.
Da conversa entre o
visitante e o pajé, surgiu o projeto para publicar um livro, em língua nativa,
cujo objetivo seria preservar a cultura e o Hãtxa Kuin — a língua dos Kaxinawá.
Ocorre que, para “preservar a linguagem escrita”, Panfílio diz que o pajé
Augustinho escolheu justamente o conteúdo secular das receitas xamânicas, o
“Livro Vivo dos Kaxinawá”, um tesouro da biodiversidade amazônica que,
inclusive, já foi alvo de estudos e publicações de botânicos brasileiros, mas
com anuência do Conselho de Gestão do Acesso ao Patrimônio Genético (Cgen),
presidido pelo Ministério do Meio Ambiente.
Leia mais aqui-Blog Fala Jordão
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