terça-feira, 10 de dezembro de 2019

O fundão eleitoral vai aumentar a fortuna de quem governa partidos.

Deputados e senadores apoiam aumento do fundo partidário



Nas democracias avançadas, frentes suprapartidárias costumam ser formadas quando ameaças domésticas ou externas colocam em risco o futuro da nação. As principais correntes suspendem a sequência de confrontos e se unem no combate ao inimigo comum. No Brasil, a formação de um ajuntamento de siglas é quase sempre o prelúdio de mais uma bandalheira extraordinariamente lucrativa. Os partidos se agrupam para que os políticos metam a mão mais facilmente no bolso de eleitores indefesos. Foi o aconteceu neste começo de dezembro no Congresso Nacional.

Decididos a aumentar o tamanho do fundão eleitoral — Fundo Especial de Financiamento de Campanha, segundo a certidão de batismo — deputados e senadores arquivaram antigas desavenças por algumas horas. Com a harmonia ansiosa de casal em lua de mel, parlamentares do PT e do PSDB, do DEM e do PCdoB, do PSL e do PDT e outros parceiros improváveis rejeitaram no plenário um veto do presidente Jair Bolsonaro e depois, na Comissão Mista de Orçamento da Câmara, elevaram a gastança prevista para 2020 de R$ 2 bilhões para R$ 3,8 bilhões.

"Não existe dinheiro público; existe o dinheiro dos pagadores de impostos", ensinou a primeira-ministra inglesa Margareth Thatcher. Cumpre ao Executivo, ao Legislativo e ao Judiciário administrar com sensatez e eficácia o que a pesada carga tributária arranca dos cidadãos comuns. Na semana passada, a maioria do Congresso reafirmou que não sabe disso. Ou finge que não sabe — o que dá na mesma. Se tivessem algum pudor, o bando de representantes do povo não teria duplicado uma quantia já obscena com o confisco de verbas reservadas a áreas infinitamente mais relevantes.

Três setores foram especialmente desidratados pelos gestores de picadeiro: saúde (R$ 500 milhões), educação (R$ 280 milhões) e infraestrutura (R$ 380 milhões). A terceira área alcançada pela sangria terá de reduzir o ritmo da construção de moradias populares e da expansão da raquítica rede de saneamento básico. Muita canalhice e pouca vergonha — eis o binômio que resume o criminoso transplante orçamentário urdido nas catacumbas do Poder Legislativo.

Parido em 2017, o fundão que nem deveria ter nascido vai financiar pela primeira vez a campanha de candidatos a prefeito ou vereador. Essa espécie de disputa sempre foi bem mais barata que a que elege num único pleito o presidente da República, senadores, governadores, deputados federais e deputados estaduais. Ficou ainda menos onerosa com o sumiço dos comícios e showmícios, substituídos por reuniões com grupos de eleitores e, sobretudo, pelo uso crescente das redes sociais. Se a despesa caiu, por que dobrar a conta espetada no lombo dos brasileiros?

Quais foram os cálculos que resultaram nos R$ 3,8 bilhões? Como será repartido o produto do roubo? A distribuição será feita pelos diretórios nacionais ou estaduais? Os deputados conseguirão engordar a bolada remetida a seus currais? As fatias destinadas a cada município serão medidas pelo número de habitantes ou de eleitores? Essas e outras perguntas afligem tanto os candidatos quanto os que vão bancar o desperdício bilionário. Até agora, todos ignoram as respostas.

O Brasil decente só sabe que, seja qual for o resultado das eleições, muitos donos de partido ficarão bem mais ricos em 2020. Nada como um ano eleitoral a cada dois.

R7.com

Maia e Alcolumbre perderam a aula de sabedoria política ministrada por Ulisses e Ibsen.

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Quando a indignação de incontáveis brasileiros com as bandalheiras em que se meteu Fernando Collor passou a ser traduzida em manifestações de rua, o deputado gaúcho Ibsen Pinheiro, presidente da Câmara, entendeu que o impeachment se tornara inevitável — e repetiu a frase que soava como regra sem exceções: “O Congresso sempre acaba fazendo o que o povo quer, desde que a vontade popular se manifeste nas ruas”.

“Eu não ajo sob pressão!”, irritou-se o presidente Ernesto Geisel em 1976, quando confrontado  com a onda de descontentamento provocada  pelo ritmo vagaroso do processo de abertura política. “Eu só ajo sob pressão”, replicou o deputado Ulisses Guimarães, que   se transformara num doutor em  comportamento político graças à longa experiência no Congresso.

Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre continuam fabricando espertezas para impedir que o Congresso aprove, com urgência, medidas que permitirão o começo do cumprimento da pena depois da condenação em segunda instância. É isso o que o povo quer. Pelo visto, nenhum dos dois sabe o que Ibsen e Ulisses sabiam. Não demorarão a aprender a lição. Só que do jeito mais difícil.





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