A Polícia Militar do Rio de Janeiro está no
topo do ranking da extorsão policial no país. Do total de pessoas achacadas por
policiais militares, 30,2% são do estado. O dado faz parte da Pesquisa Nacional
de Vitimização (PNV), encomendada pelo Ministério da Justiça e pelo Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento ao instituto Datafolha, e obtida com
exclusividade pelo jornal Extra. Segundo o levantamento, o estado tem mais
vítimas desse crime do que todos os demais estados da Região Sudeste somados,
inclusive São Paulo, que tem a maior população e a maior corporação militar do
país. A PM de São Paulo aparece em segundo lugar na pesquisa.
A Pesquisa Nacional
de Vitimização também procurou saber a extensão do problema nas polícias civis
Brasil afora. A Polícia Civil de São Paulo lidera, com 28,6% das pessoas que
disseram ter sido achacadas, seguida pela do Rio, com 17,2%.
“Essa pesquisa
mostrou, de fato, que a PM do Rio é a mais corrupta no país. Mas acho que a
gente deve entender que o policial é recrutado na nossa sociedade, é um retrato
dela”, defendeu a secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki.
A PNV é um estudo que
procura captar as ocorrências de eventos criminais na população, com o objetivo
de compará-los com os dados oficiais registrados pelas polícias,
classificando-os por localidade, estrato social, cor da pele, idade, sexo e
renda. A amostra da pesquisa foi de 78.000 pessoas e vem sendo preparada desde
2010. No estado do Rio, foram 8.550 entrevistas. Os dados são uma prévia: a
íntegra do estudo será divulgada daqui a um mês.
Testemunhas
Maus exemplos não
faltam. Apesar de alheios aos números, o jovem Y. e dois amigos, todos
moradores de Macaé, no Norte Fluminense, entendem bem do assunto. Em 18 de abril
de 2009, os três saíam de uma pizzaria quando perceberam que um pneu do carro
estava furado. Pararam o veículo e foram surpreendidos por policiais militares.
O trio foi revistado e apresentou o documento do automóvel. Não havia
irregularidades.
Ainda assim, os
militares exigiram um pedágio — este foi o termo usado — de R$ 300. Nenhum dos
três tinha a quantia pedida. O tapa na cara que o sargento Marcelo Barbosa
Rocha deu em Y. inaugurou uma série de ameças e extorsões de que o grupo seria
vítima e só punidas há duas semanas, com a condenação de dois policiais.
“Os policiais foram a
diversos morros tentar vender o carro, com eles dentro da viatura. Depois de
três horas e meia, meu filho conseguiu me ligar, contar tudo e se esconder com
os amigos atrás de uma casa. Agora, após quatro anos, o sargento e o soldado
Gino Gardoni de Souza foram condenados a sete anos e dois meses por extorsão
mediante sequestro. Achei baixa a pena, mas a Justiça se pronunciou a favor das
vítimas. Isso serve de exemplo para a tropa inteira”, diz o advogado Dilermando
Cavalcanti de Oliveira, pai da vítima.
Versão da polícia
A Polícia Militar
afirmou, por meio de nota, que tem sido rigorosa a ponto de, em 2012, ter
“quebrado o recorde histórico de policiais excluídos em 203 anos de história da
corporação: 312 policiais foram expulsos”. A corporação afirmou ainda que a
pesquisa é “um sinal de que este rigor é o que a sociedade deseja e precisa”.
Já a Polícia Civil, em nota, afirmou que a Corregedoria Interna “atua com
severidade e transparência para punir qualquer tipo de desvio de conduta de
autoridades policiais e agentes”. A instituição afirmou estar investindo em
agilizar os processos internos e citou prisões recentes de delegados,
inspetores e peritos acusados de envolvimento em extorsão e outros crimes.
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