sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Pobreza: Famílias retiradas da reserva Raposa Serra do Sol têm dificuldades para plantar


Dois anos e meio depois da demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol em terras contínuas, o JN no Ar foi a Roraima para mostrar como vivem os brasileiros diretamente afetados pela decisão da Justiça.
Depois de deixar a terra onde trabalharam durante anos, produtores rurais tentam recomeçar.

"Estou velho, e quase sem poder fazer nada”, lamenta o produtor rural Laurence Hart.
Eles estão entre as 340 famílias que saíram da reserva indígena Raposa Serra do Sol depois da decisão do Supremo Tribunal Federal, em 2009, que determinou a retirada dos não índios.

Segundo o Incra, 130 famílias foram reassentadas e 53 estão em processo de cadastramento para receber os lotes em assentamentos.
Mas as famílias reclamam que as terras são bem menores que as propriedades que tinham na reserva. Dizem também que a qualidade do solo é diferente e que não têm condições de produzir da mesma forma que antes.
No assentamento Nova Amazônia, encontramos uma situação extremamente precária. Não há luz nem água encanada. Seu Raimundo e dona Celina tinham 400 cabeças de gado, plantavam laranja e banana na reserva indígena. Tiveram que deixar tudo para trás.

“Saí de dentro de uma casa boa e agora estou aqui. Quando chove eu tenho que levantar de noite pra tirar tudo, eu não queria essa vida pra mim não”, lamenta a dona de casa Celina Cardoso.
“Agora é o capital que hoje eu não estou tendo nem pra comer”, reclama o produtor rural Raimundo Cardoso Sobrinho.

Outro problema para os assentados é o acesso aos terrenos. A equipe do JN no Ar tentou chegar a um dos lotes , mas o acesso é tão complicado, que não foi possível chegar. O transporte atolou no meio do caminho.
O Incra também repassou 3,3 milhões hectares de terras federais para o governo de Roraima destinar às famílias.

“É mais do que o suficiente para poder reassentar todas as pessoas que foram retiradas da Raposa Serra do Sol”, garante Celso Lisboa De Lacerda, do Incra.
O governo do estado assentou 55 famílias, mas diz que nem todas as terras repassadas estão disponíveis e que o processo de regularização pode levar muitos anos.
“São áreas já ocupadas, que não têm infra-estrutura para reassentá-los e o governo federal tem que dar condições para que o estado possa promover este reassentamento”, aponta Márcio Junqueira, diretor-presidente do Instituto Terras (RR).

Na reserva, havia sete grandes produtores de arroz. As máquinas não pararam porque o plantio continuou em terras fora da reserva. Mas houve queda de 60% na produção.

“Nós tínhamos uma topografia excelente, áreas que não inundavam”, diz Genor Faccio, da Associação dos Arrozeiros.
Os arrozeiros tiveram direito apenas às indenizações pelas benfeitorias nas fazendas. E discordam dos valores estipulados.
“A Funai fez um documento que avalia um valor e paga menos do que o valor que ela própria avaliou”, diz a produtora de arroz Regina Aparecida da Silva.
O ministro Ayres Brito, relator do caso da Raposa no Supremo, indica o caminho para quem está insatisfeito.

“Essa altura é o que se espera é que haja uma indenização justa nos termos da lei. Se isso não for possível, no plano das gestões amigáveis, o poder judiciário está aí para resolver esse impasse”, diz o Ministro Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal.

Fonte JN.

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