Ecio Rodrigues, 03/01/2016
Diante dos incontáveis estudos que já
atestaram a importância do tripé de serviços públicos representado por
coleta de lixo, oferta de água tratada para consumo humano e tratamento
de esgoto, pode-se afirmar, sem medo de errar, que esses serviços,
inseridos no que genericamente se classifica como saneamento básico, quando prestados de maneira precária, causam danos irreparáveis à saúde e ao bem-estar da população.
Não há dúvida científica, por outro lado, quanto ao fato de que os
custos referentes à implantação desses serviços são bem inferiores aos
custos resultantes da falta de saneamento. Todos concordam que os males
decorrentes de um esgoto que corre a céu aberto são inadmissíveis para a
realidade brasileira no século 21.
A despeito de tais constatações, contudo, observa-se uma inexplicável
ausência de prioridade para o saneamento no âmbito da política pública,
a ponto de a gestão desses serviços passar da esfera estatal para a
empresarial e vice-versa, num jogo sem fim que não resolve o problema.
Embora a ampliação do conceito de saneamento tenha sido uma demanda
da sociedade brasileira ainda na década de 2000, nenhuma meta foi
alcançada, e o problema central da alternância entre gestão estatal e
gestão privada se mantém sem solução.
Sob um espectro bem mais amplo, o conceito de saneamento ambiental
abrange, além dos serviços de coleta de lixo e tratamento de água e
esgoto, aspectos relacionados à qualidade de vida, com vistas à solução
de problemas como degradação da paisagem urbana, impermeabilização do
solo, desbarrancamento de encostas, desmatamento da mata ciliar dos
rios, e assim por diante.
Todavia, uma avaliação breve e rápida do Atlas do Saneamento no país,
publicado pelo IBGE em 2011, mostra que a precariedade na prestação de
serviços relacionados ao tripé (lixo, água e esgoto) não somente
continua como obedece a uma desigualdade regional preocupante.
Do Sul para Norte, a precariedade se amplia e, sobretudo com relação
ao esgoto que corre a céu aberto na maioria das cidades, as
consequências são assustadoras.
Ou seja, no final das contas, além de não se resolver o básico –
lixo, água e esgoto –, ainda se ampliou o conceito de saneamento,
enfocando questões mais abrangentes e, obviamente, mais difíceis de
serem resolvidas.
É a típica situação que caracteriza a chamada “teoria do bode”:
quando não se consegue resolver um problema existente, cria-se um
problema novo – quer dizer, joga-se um bode no contexto.
Só para ficar no exemplo dos resíduos sólidos, ou melhor, da gestão
do lixo produzido pela sociedade, a legislação de 2010, que introduziu a
Política Nacional de Resíduos Sólidos, embora tenha sido considerada um
avanço, exigiu demais dos municípios.
Sem conseguir se adequar às estipulações da nova lei, as
administrações municipais forçaram, excessiva e recorrentemente, a
prorrogação do prazo para o fim dos lixões. Esse, por sinal, é um fato
que merece toda a atenção e demonstra o quão estrambólico é o bode do
saneamento ambiental.
Na Amazônia, a discussão sobre o fim dos lixões parece até piada. No
Acre, um estado com economia persistentemente fragilizada, a imensa
maioria das cidades convive com seus lixões e, o pior, boa parte se
encontra na beira dos rios.
Isto é, quando chega o inverno amazônico, com as chuvas, o lixo vai rio abaixo.
Pelo menos nos próximos 10 anos, dos 22 municípios acreanos, mais da
metade ainda terá um lixão para chamar de seu e, claro, para mandar rio
abaixo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário