quinta-feira, 26 de março de 2020

Da raiva à cólera: as doenças infecciosas que matam mais que o coronavírus.

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Do ponto de vista de escala de mortalidade, o coronavírus ainda não compete com uma série de outras doenças infecciosas que existem há mais tempo

São Paulo — Enquanto o brasileiro pulava carnaval, o coronavírus voltava a chacoalhar os mercados globais diante de novos surtos em lugares como Irã e na Itália. A sensação é de que a ampliação da epidemia é questão de tempo, e o próprio Brasil confirmou seu primeiro caso nesta quarta-feira (26).
Do ponto de vista de escala de mortalidade, cuja taxa tem se mantido entre 3% e 4%, o coronavírus ainda não compete com uma série de outras doenças infecciosas que existem há muito mais tempo e estão entre as principais causas de morte no mundo, especialmente em países de baixa renda.

Tuberculose

Em 2018, cerca de 10 milhões de pessoas contraíram tuberculose no mundo e 1,5 milhão morreram da doença, que mata mais gente do que o HIV e a Malária juntos.
O maior número de novos casos foi no Sudeste Asiático (44%), seguido por países da África (24%) e do Pacífico Ocidental (18%). No mesmo ano no Brasil, 72 mil pessoas foram diagnosticadas e 4,5 mil morreram em decorrência da doença.
A tuberculose é causada por bactérias que afetam, principalmente, os pulmões. A transmissão é feita de pessoa para pessoa através do ar, por meio de tosse, espirro ou cuspe.
Nos últimos anos, o número de mortes por tuberculose vem diminuindo constantemente — mas apesar de a doença ter tratamento e cura, sua carga permanece alta entre populações de baixa renda, pouco acesso ao sistema de saúde e em situação de vulnerabilidade e baixa imunidade.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima um déficit de US$ 3,3 bilhões para prevenção e tratamento da doença. No ano passado, o financiamento internacional para isso foi de US$ 0,9 bilhão.

Hepatites B e C

As hepatites virais B e C afetam 325 milhões de pessoas em todo o mundo e levam 1,34 milhão à óbito anualmente. Elas são as principais causas do câncer de fígado.
A transmissão mais comum da hepatite B é a perinatal, de mãe para filho, ou por transmissão horizontal pela exposição ao sangue infectado. É possível haver transmissão sexual.
Já a hepatite C é mais comumente transmitida por contato com sangue contaminado, seja por transfusão, acidentes com material contaminado ou drogas injetáveis. A transmissão sexual é rara.
Segundo a OMS, a baixa cobertura de testes e tratamentos é o principal obstáculo para atingir a meta global de eliminar a infecção até 2030.
Na população brasileira foram identificados em 2018 cerca de 13 mil casos de hepatite B e 26 mil de C, que levaram à óbito 2 mil pessoas.

HIV/AIDS

A OMS classifica a o vírus do HIV como um dos maiores problemas globais de saúde pública. Só em 2018, 770 mil pessoas morreram por complicações pela doença e 1,7 milhão de pessoas foram infectadas. Desde que o vírus surgiu, são 75 milhões de infectados e 32 milhões de mortes.
O HIV pode ser transmitido através da troca de uma variedade de fluidos corporais de pessoas infectadas, como sangue, leite materno, sêmen e secreções. Não há infecção através do contato diário comum, como beijar, abraçar, apertar as mãos ou compartilhar objetos pessoais.
Nas últimas décadas a doença teve um avanço considerável, tanto em termos de tecnologia quanto de acesso, na prevenção, diagnóstico, tratamento e assistências médicas eficazes a quem contrai o HIV.
Hoje existem aproximadamente 37,9 milhões de pessoas que têm o vírus, mas que vivem de forma saudável e com carga viral indetectável.
No Brasil, a epidemia é considerada estabilizada e são 866 mil pessoas vivendo com o vírus. Nos últimos cinco anos, o número de mortes pela doença caiu 22,8%, de 12,5 mil em 2014 para 10,9 mil em 2018.

Gripe

Uma das doenças mais comuns do mundo é a gripe, que anualmente leva cerca de 650 mil pessoas à óbito devido a complicações respiratórias.
Em 2018, o Brasil registrou aumento de 194,4% no número de mortes por gripe em relação ao mesmo período de 2017: 839 contra 285 no ano anterior. O número de casos também mais que duplicou no período, com 4 mil infecções em 2018, contra 1.782 em 2017.

A doença vive variações periódicas, em versões tanto transmitidas por animais, como a H1N1, como pandemias, como a “Gripe Espanhola”, e as sazonais, que aparecem principalmente no inverno.
Com vacinas para prevenir a maior parte das gripes, a OMS desenvolveu uma Estratégia Global de Gripe para 2019-2030. O objetivo é fortalecer a prevenção, o controle e a preparação para futuras pandemias.

Malária

A malária é causada por parasitas que são transmitidos às pessoas através das picadas de mosquitos fêmeas infectados. A doença não tem vacina, mas é evitável e pode ser curada.
Em 2018, o número estimados de casos de malária no mundo chegou a 228 milhões, com 405 mil óbitos. A doença tem predomínio em países subdesenvolvidos, principalmente no continente africano. Em 2018, a região abrigava 93% dos casos e 94% das mortes pela doença.

Apesar da estatística recente, as mortes por malária caíram 42% desde o ano 2000. Mas o fato de ela estar concentrada em áreas tropicais de menor peso econômico e renda mais baixa torna elas menos atrativas do ponto de vista da pesquisa farmacêutica.
Este é um dos motivos que levaram o bilionário Bill Gates a investir através da sua fundação bilhões de dólares em busca de uma vacina.
No Brasil, a OMS estima que houve cerca de 218 mil casos em 2017, mas não há estimativas de mortes.

Meningite

A meningite é uma doença infecciosa, transmitida por um vírus, bactéria ou fungo, que atinge cerca de 1 milhão de pessoas por ano no mundo.
O grande desafio para o tratamento da meningite, é que normalmente é difícil reconhecer a doença nos estágios iniciais, já que os sintomas podem ser semelhantes aos da gripe comum
A meningite bacteriana, que é a forma mais grave e comum da doença, causa cerca de 170 mil mortes em todo o mundo a cada ano. Em 2018, o Brasil registrou 934 casos e 282 mortes.

Cólera

Com menos precisão de informações sobre transmissão e mortes, é estimado que a cada ano haja 143 mil mortes em todo o mundo por conta da cólera.
Em 2016, último dado disponível, foram reportados 132 mil casos e 2.420 mortes, mas a OMS considera que há subnotificação porque ela costuma ocorrer em países pouco desenvolvidos.

A doença consiste em uma infecção diarreica aguda causada por comer ou beber alimentos ou água que está contaminada com uma bactéria.
Além de vacina, a maioria dos pacientes com cólera pode ser tratado através da administração imediata de solução de reidratação oral (SRO).

Raiva

O vírus da raiva (Lyssavirus) infecta mamíferos e é transmitido aos seres humanos através da saliva, normalmente por mordida de cachorro. A infecção pela doença é fatal em mais de 99% dos casos, o que a torna uma das mais mortais do mundo.
Não existe tratamento após o início dos sinais ou sintomas, mas há a profilaxia pós-exposição (PEP), chamada de vacina anti-rábica, que impede eficazmente a doença. Anualmente, cerca de 59 mil pessoas morrem por conta da raiva.

Febre amarela

A febre amarela é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, principalmente, e pode causar desde doença febril autolimitada até doença hepática grave com sangramento.
Anualmente, a estimativa é que a febre atinja 200 mil pessoas e cerca de 30 mil mortes a cada ano. O Brasil teve 483 mortes por febre amarela entre julho de 2017 e junho de 2018. A propagação da doença é evitável via vacina.

Dengue

Presente em 141 países, a cada ano cerca de 390 milhões de pessoas no mundo são infectadas pela dengue e 25 mil pessoas morrem da doença.
Em 2019, o Brasil registrou o segundo maior número de mortes por dengue em 21 anos, com 754 mortes, atrás apenas de 2015, ano da pior epidemia já registrada. O número de casos prováveis da doença ultrapassou 1,5 milhão.
A incidência global cresceu muito nas últimas décadas e, hoje, 40% da população mundial têm risco de contrair a infecção transmitida por mosquitos fêmeas principalmente da espécie Aedes aegypti.

Ebola

A doença do vírus Ebola (DVE) é considerada uma das mais graves e mata em um a cada dois casos. Os primeiros surtos foram em aldeias remotas na África Central, perto de florestas tropicais, nos anos 70.
Entre 2014 e 2016, houve o maior e mais complexo surto na África Ocidental, que resultou em 28 mil casos e 11 mil mortes.
Desde julho de 2019, a República Democrática do Congo vive uma epidemia da doença, ainda não controlada. Até agora, há 3,4 mil casos e 2,2 mil mortes.

Fonte: Exame

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