Do ponto de vista
de escala de mortalidade, o coronavírus ainda não compete com uma série de
outras doenças infecciosas que existem há mais tempo
São Paulo — Enquanto o
brasileiro pulava carnaval, o coronavírus voltava
a chacoalhar os mercados globais diante de novos surtos em lugares como Irã e
na Itália. A sensação é de que a ampliação da epidemia é questão de tempo, e o
próprio Brasil confirmou seu primeiro caso nesta quarta-feira (26).
Do ponto de vista de
escala de mortalidade, cuja taxa tem se mantido entre 3% e 4%, o coronavírus ainda
não compete com uma série de outras doenças infecciosas que existem há muito
mais tempo e estão entre as principais causas de morte no mundo, especialmente
em países de baixa renda.
Tuberculose
Em 2018, cerca de 10
milhões de pessoas contraíram tuberculose no mundo e 1,5 milhão morreram da
doença, que mata mais gente do que o HIV e a Malária juntos.
O maior número de novos
casos foi no Sudeste Asiático (44%), seguido por países da África (24%) e do
Pacífico Ocidental (18%). No mesmo ano no Brasil, 72 mil pessoas foram
diagnosticadas e 4,5 mil morreram em decorrência da doença.
A tuberculose é causada
por bactérias que afetam, principalmente, os pulmões. A transmissão é feita de
pessoa para pessoa através do ar, por meio de tosse, espirro ou cuspe.
Nos últimos anos, o número
de mortes por tuberculose vem diminuindo constantemente — mas apesar de a
doença ter tratamento e cura, sua carga permanece alta entre populações de
baixa renda, pouco acesso ao sistema de saúde e em situação de vulnerabilidade
e baixa imunidade.
A Organização Mundial da
Saúde (OMS) estima um déficit de US$ 3,3 bilhões para prevenção e tratamento da
doença. No ano passado, o financiamento internacional para isso foi de US$ 0,9
bilhão.
Hepatites
B e C
As hepatites virais B e C
afetam 325 milhões de pessoas em todo o mundo e levam 1,34 milhão à óbito
anualmente. Elas são as principais causas do câncer de fígado.
A transmissão mais comum
da hepatite B é a perinatal, de mãe para filho, ou por transmissão horizontal
pela exposição ao sangue infectado. É possível haver transmissão sexual.
Já a hepatite C é mais
comumente transmitida por contato com sangue contaminado, seja por transfusão,
acidentes com material contaminado ou drogas injetáveis. A transmissão sexual é
rara.
Segundo a OMS, a baixa
cobertura de testes e tratamentos é o principal obstáculo para atingir a meta
global de eliminar a infecção até 2030.
Na população brasileira
foram identificados em 2018 cerca de 13 mil casos de hepatite B e 26 mil de C,
que levaram à óbito 2 mil pessoas.
HIV/AIDS
A OMS classifica a o vírus
do HIV como um dos maiores problemas globais de saúde pública. Só em 2018, 770
mil pessoas morreram por complicações pela doença e 1,7 milhão de pessoas foram
infectadas. Desde que o vírus surgiu, são 75 milhões de infectados e 32 milhões
de mortes.
O HIV pode ser transmitido
através da troca de uma variedade de fluidos corporais de pessoas infectadas,
como sangue, leite materno, sêmen e secreções. Não há infecção através do
contato diário comum, como beijar, abraçar, apertar as mãos ou compartilhar objetos
pessoais.
Nas últimas décadas a
doença teve um avanço considerável, tanto em termos de tecnologia quanto de
acesso, na prevenção, diagnóstico, tratamento e assistências médicas eficazes a
quem contrai o HIV.
Hoje existem
aproximadamente 37,9 milhões de pessoas que têm o vírus, mas que vivem de forma
saudável e com carga viral indetectável.
No Brasil, a epidemia é
considerada estabilizada e são 866 mil pessoas vivendo com o vírus. Nos
últimos cinco anos, o número de mortes pela doença caiu 22,8%, de 12,5 mil em
2014 para 10,9 mil em 2018.
Gripe
Uma das doenças mais
comuns do mundo é a gripe, que anualmente leva cerca de 650 mil pessoas à óbito
devido a complicações respiratórias.
Em 2018, o Brasil
registrou aumento de 194,4% no número de mortes por gripe em relação ao mesmo
período de 2017: 839 contra 285 no ano anterior. O número de casos também mais
que duplicou no período, com 4 mil infecções em 2018, contra 1.782 em 2017.
A doença vive variações
periódicas, em versões tanto transmitidas por animais, como a H1N1, como
pandemias, como a “Gripe Espanhola”, e as sazonais, que aparecem principalmente
no inverno.
Com vacinas para prevenir
a maior parte das gripes, a OMS desenvolveu uma Estratégia Global de Gripe
para 2019-2030. O objetivo é fortalecer a prevenção, o controle e a preparação
para futuras pandemias.
Malária
A malária é causada por
parasitas que são transmitidos às pessoas através das picadas de mosquitos
fêmeas infectados. A doença não tem vacina, mas é evitável e pode ser curada.
Em 2018, o número
estimados de casos de malária no mundo chegou a 228 milhões, com 405 mil
óbitos. A doença tem predomínio em países subdesenvolvidos, principalmente no
continente africano. Em 2018, a região abrigava 93% dos casos e 94% das mortes
pela doença.
Apesar da estatística
recente, as mortes por malária caíram 42% desde o ano 2000. Mas o fato de ela
estar concentrada em áreas tropicais de menor peso econômico e renda mais baixa
torna elas menos atrativas do ponto de vista da pesquisa farmacêutica.
Este é um dos motivos que
levaram o bilionário Bill Gates a investir através da sua fundação bilhões de
dólares em busca de uma vacina.
No Brasil, a OMS estima
que houve cerca de 218 mil casos em 2017, mas não há estimativas de mortes.
Meningite
A meningite é uma doença
infecciosa, transmitida por um vírus, bactéria ou fungo, que atinge cerca de 1
milhão de pessoas por ano no mundo.
O grande desafio para o
tratamento da meningite, é que normalmente é difícil reconhecer a doença nos
estágios iniciais, já que os sintomas podem ser semelhantes aos da gripe comum
A meningite bacteriana,
que é a forma mais grave e comum da doença, causa cerca de 170 mil mortes em
todo o mundo a cada ano. Em 2018, o Brasil registrou 934 casos e 282 mortes.
Cólera
Com menos precisão de
informações sobre transmissão e mortes, é estimado que a cada ano haja 143 mil
mortes em todo o mundo por conta da cólera.
Em 2016, último dado
disponível, foram reportados 132 mil casos e 2.420 mortes, mas a OMS considera
que há subnotificação porque ela costuma ocorrer em países pouco desenvolvidos.
A doença consiste em
uma infecção diarreica aguda causada por comer ou beber alimentos ou água
que está contaminada com uma bactéria.
Além de vacina, a maioria
dos pacientes com cólera pode ser tratado através da administração imediata de
solução de reidratação oral (SRO).
Raiva
O vírus da raiva (Lyssavirus)
infecta mamíferos e é transmitido aos seres humanos através da saliva,
normalmente por mordida de cachorro. A infecção pela doença é fatal em mais de
99% dos casos, o que a torna uma das mais mortais do mundo.
Não existe tratamento após
o início dos sinais ou sintomas, mas há a profilaxia pós-exposição (PEP),
chamada de vacina anti-rábica, que impede eficazmente a doença. Anualmente,
cerca de 59 mil pessoas morrem por conta da raiva.
Febre
amarela
A febre amarela é
transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, principalmente, e pode
causar desde doença febril autolimitada até doença hepática grave com
sangramento.
Anualmente, a estimativa é
que a febre atinja 200 mil pessoas e cerca de 30 mil mortes a cada ano. O
Brasil teve 483 mortes por febre amarela entre julho de 2017 e junho de 2018. A
propagação da doença é evitável via vacina.
Dengue
Presente em 141 países, a
cada ano cerca de 390 milhões de pessoas no mundo são infectadas pela dengue e
25 mil pessoas morrem da doença.
Em 2019, o Brasil
registrou o segundo maior número de mortes por dengue em 21 anos, com 754
mortes, atrás apenas de 2015, ano da pior epidemia já registrada. O número de
casos prováveis da doença ultrapassou 1,5 milhão.
A incidência global
cresceu muito nas últimas décadas e, hoje, 40% da população mundial têm risco
de contrair a infecção transmitida por mosquitos fêmeas principalmente da
espécie Aedes aegypti.
Ebola
A doença do vírus Ebola
(DVE) é considerada uma das mais graves e mata em um a cada dois casos. Os
primeiros surtos foram em aldeias remotas na África Central, perto de florestas
tropicais, nos anos 70.
Entre 2014 e 2016, houve o
maior e mais complexo surto na África Ocidental, que resultou em 28 mil casos e
11 mil mortes.
Desde julho de 2019, a
República Democrática do Congo vive uma epidemia da doença, ainda não
controlada. Até agora, há 3,4 mil casos e 2,2 mil mortes.
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