Para ele, visita
de Soleimani a Bagdá, onde foi assassinado, prova intenções belicosas do Irã,
que, acusando EUA, deixou acordo nuclear
A declaração do
governo iraniano de que irá deixar o acordo nuclear assinado em 2015 com as
potências ocidentais confirma, na prática, o que o governo de Israel vinha
afirmando, segundo o analista político André Lajst, especialista em Oriente
Médio e diretor da organização StandWithUs
"O governo
de Israel disse, corretamente, que o Irã mentiu antes e durante o acordo,
depois apontou que o governo iraniano estava com ações dúbias mostrando que,
por um lado fazia o acordo e, por outro, armava milícias no Oriente Médio, para
poder conquistar mais territórios pró-Irã. Não muda muito a visão do governo
israelense, só ajuda a mostrar ao mundo a verdadeira face do Irã",
afirmou.
Lajst, que é
mestre em Ciências Sociais pela IDC de Herzelyia, aponta a própria visita do
general Qasem Soleimani ao Iraque, onde morreu após ataque dos Estados Unidos,
como uma prova das intenções belicosas do Irã. Segundo ele, o governo iraniano
é uma ditadura que insiste em mentir mas, desta vez, foi flagrado.
"O que um
general iraniano estava fazendo no Iraque? Essa pergunta precisa ser feita. Não
era general iraniano? Ele deveria estar lá cuidando dos assuntos de segurança
nacional iraniana. Por que estava secretamente no Iraque? Não era uma visita
oficial. Por que ele estava com o líder xiita que tentou invadir a embaixada
americana e que também morreu no ataque? As ações provam que a realidade de
percepção do governo iraniano em relação ao acordo é de falsidade, estão
tentando mostrar um tipo de comportamento para o mundo e na prática tendo
outro", destaca.
Por ser um
inimigo estratégico do Irã, Israel está atento a qualquer ameaça vinda do
governo iraniano, conforme afirmou Lajst.
"Israel vê
com muitas dúvidas e com ceticismo o governo do Irã. É um governo teocrático,
uma ditadura, conservadora e extremamente hostil a Israel. A Inteligência
israelense é muito avançada e mostra a realidade divergindo das declarações
passadas iranianas de que o país não tem interesse de fabricar a bomba atômica.
Obteve inclusive vários documentos iranianos que mostram um programa colocado
em segredo, vários projetos e programas escondidos em cofres", afirma.
E, por mais que o
poderio militar iraniano seja inferior ao israelense e ao americano, Lajst
acredita que o governo de Israel leva a sério as ameaças do Irã. Isso não
significa que acredite em um conflito armado iminente.
"Israel vê
com preocupação essas declarações (do governo iraniano). É preciso levar a
sério o governo iraniano. O Irã é capaz de realizar ações, tem capacidade
financeira, treinamento e homens para isso. Ao mesmo tempo acho que não serão
ações que levem a uma guerra, o Irã perderia, tem menos força militar e sabe
disso. Não tem como destruir os Estados Unidos, nem Israel. Por isso as ações
terão de ser pontuais, devem retaliar, sem que forcem uma guerra", diz.
Após o
assassinato do general iraniano Qasem Soleimani e de líderes militares
iraquianos, em Bagdá, no último dia 2, realizado pelo governo americano, uma
forte crise se instaurou na região.
Os governos do
Irã e Iraque negaram envolvimento com terrorismo e repassaram a acusação aos
Estados Unidos que, segundo eles, foi quem praticou um ato terrorista. Garantiram
também que ocorrerão represálias. Entre as declarações, estava a promessa da
retirada iraniana do acordo.
Em comunicado
após o ataque, o Pentágono afirmou que o general iraniano “estava desenvolvendo
ativamente planos para atacar diplomatas e militares americanos no Iraque e em
toda a região”.
O ponto
culminante que levou à ação americana foi o ataque à embaixada dos Estados
Unidos no Iraque, no último dia de 2019, que teria sido orquestrado por
milicianos iraquianos, manifestantes pró-Irã e apoiadores do Kataib Hezbollah,
milícia iraquiana paramilitar que teria o apoio do Irã.
O ataque, por sua
vez, foi uma resposta aos bombardeios americanos realizados dois dias antes, no
Iraque e na Síria, que mataram combatentes do Kataib Hezbollah, grupo hostil
aos Estados Unidos nos dois países.
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