segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

"Governo do Irã é uma ditadura que insiste em mentir", diz analista.



Para ele, visita de Soleimani a Bagdá, onde foi assassinado, prova intenções belicosas do Irã, que, acusando EUA, deixou acordo nuclear

A declaração do governo iraniano de que irá deixar o acordo nuclear assinado em 2015 com as potências ocidentais confirma, na prática, o que o governo de Israel vinha afirmando, segundo o analista político André Lajst, especialista em Oriente Médio e diretor da organização StandWithUs

"O governo de Israel disse, corretamente, que o Irã mentiu antes e durante o acordo, depois apontou que o governo iraniano estava com ações dúbias mostrando que, por um lado fazia o acordo e, por outro, armava milícias no Oriente Médio, para poder conquistar mais territórios pró-Irã. Não muda muito a visão do governo israelense, só ajuda a mostrar ao mundo a verdadeira face do Irã", afirmou.

Lajst, que é mestre em Ciências Sociais pela IDC de Herzelyia, aponta a própria visita do general Qasem Soleimani ao Iraque, onde morreu após ataque dos Estados Unidos, como uma prova das intenções belicosas do Irã. Segundo ele, o governo iraniano é uma ditadura que insiste em mentir mas, desta vez, foi flagrado.

"O que um general iraniano estava fazendo no Iraque? Essa pergunta precisa ser feita. Não era general iraniano? Ele deveria estar lá cuidando dos assuntos de segurança nacional iraniana. Por que estava secretamente no Iraque? Não era uma visita oficial. Por que ele estava com o líder xiita que tentou invadir a embaixada americana e que também morreu no ataque? As ações provam que a realidade de percepção do governo iraniano em relação ao acordo é de falsidade, estão tentando mostrar um tipo de comportamento para o mundo e na prática tendo outro", destaca.

Por ser um inimigo estratégico do Irã, Israel está atento a qualquer ameaça vinda do governo iraniano, conforme afirmou Lajst.
"Israel vê com muitas dúvidas e com ceticismo o governo do Irã. É um governo teocrático, uma ditadura, conservadora e extremamente hostil a Israel. A Inteligência israelense é muito avançada e mostra a realidade divergindo das declarações passadas iranianas de que o país não tem interesse de fabricar a bomba atômica. Obteve inclusive vários documentos iranianos que mostram um programa colocado em segredo, vários projetos e programas escondidos em cofres", afirma.

E, por mais que o poderio militar iraniano seja inferior ao israelense e ao americano, Lajst acredita que o governo de Israel leva a sério as ameaças do Irã. Isso não significa que acredite em um conflito armado iminente.

"Israel vê com preocupação essas declarações (do governo iraniano). É preciso levar a sério o governo iraniano. O Irã é capaz de realizar ações, tem capacidade financeira, treinamento e homens para isso. Ao mesmo tempo acho que não serão ações que levem a uma guerra, o Irã perderia, tem menos força militar e sabe disso. Não tem como destruir os Estados Unidos, nem Israel. Por isso as ações terão de ser pontuais, devem retaliar, sem que forcem uma guerra", diz.

Após o assassinato do general iraniano Qasem Soleimani e de líderes militares iraquianos, em Bagdá, no último dia 2, realizado pelo governo americano, uma forte crise se instaurou na região.

Os governos do Irã e Iraque negaram envolvimento com terrorismo e repassaram a acusação aos Estados Unidos que, segundo eles, foi quem praticou um ato terrorista. Garantiram também que ocorrerão represálias. Entre as declarações, estava a promessa da retirada iraniana do acordo.

Em comunicado após o ataque, o Pentágono afirmou que o general iraniano “estava desenvolvendo ativamente planos para atacar diplomatas e militares americanos no Iraque e em toda a região”.
O ponto culminante que levou à ação americana foi o ataque à embaixada dos Estados Unidos no Iraque, no último dia de 2019, que teria sido orquestrado por milicianos iraquianos, manifestantes pró-Irã e apoiadores do Kataib Hezbollah, milícia iraquiana paramilitar que teria o apoio do Irã.

O ataque, por sua vez, foi uma resposta aos bombardeios americanos realizados dois dias antes, no Iraque e na Síria, que mataram combatentes do Kataib Hezbollah, grupo hostil aos Estados Unidos nos dois países.



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