quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

'Menina será princesa e menino, príncipe', diz a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos.

Damares Alves discursa durante a solenidade de sua apresentação como nova ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, e dos secretários da pasta, entre elas a indígena Sandra Terena, de cocar, que ficará responsável pela Secretaria da Igualdade Racial Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
BRASÍLIA - A nova ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, disse nesta quarta-feira, em cerimônia que marcou o início de sua gestão, que no novo governo "menina será princesa e menino, príncipe", num aviso contra o que chamou de “doutrinação ideológica”. Ela também afirmou que sua pasta focará suas políticas públicas na vida “desde sua concepção”, reforçando sua posição contra o aborto.
— Neste governo, menina será princesa e menino será príncipe. Ninguém vai nos impedir de chamar as meninas de princesa e os meninos de príncipe. Vamos acabar com o abuso da doutrinação ideológica — afirmou.
Ela também fez um alerta aos pedófilos e contra o turismo sexual, pontuando que agora se inicia uma nova era: 

— Atenção pedófilos de plantão: a brincadeira acabou, Bolsonaro é presidente. 
Num discurso longo, de cerca de 45 minutos, Damares, que é pastora evangélica, começou dizendo estar ciente de que o Estado é laico, mas lembrou que é “terrivelmente cristã”:

— O estado é laico, mas essa ministra é terrivelmente cristã. Acredito nos desígnios de Deus. Damares apresentou sua equipe, que contará com oito secretarias, quatro delas comandadas por mulheres. Uma das secretárias será a indígena Sandra Terena, da etnia Terena. Ela sentou-se à mesa vestindo cocar, e ficará responsável pela Secretaria da Igualdade Racial. Outra secretária é surda, e ficará responsável pela Secretaria Nacional da Pessoa com Deficiência. 

A nova ministra lembrou que seu núcleo familiar se restringe a ela e sua filha adotiva indígena, e garantiu que toda forma de família será respeitada. Segundo a ministra, todas as políticas do presidente Bolsonaro terão como foco o fortalecimento do núcleo familiar.
— Nós não podemos mais pensar em política pública sem fortalecer o vínculo familiar — afirmou. 

Nesse sentido, ela citou os alunos universitários que passam no Enem, vão estudar em outros estados e ficam deprimidos com saudade de casa. Embora tenha elogiado o exame, não entrou em detalhes sobre uma possível mudança no Ensino Superior:

— Muitos sofrem por tristeza, dor, depressão, por saudade, porque o filho se muda por causa do Enem. Parabéns para o Enem, mas nos não podemos mais pensar em política pública que não fortaleça o vínculo familiar. 

Damares garantiu que os direitos LGBTs serão respeitados, e que o tema ficará na alçada da Secretaria de Proteção Global. A ministra se emocionou duas vezes durante sua fala. Lembrou dos tempos em que foi vítima de violência sexual, e reclamou de ter sido perseguida e ver sua fé transformada em motivo de chacota.

Damares também prometeu investigar todas as denúncias de violência contra a mulher que chegarem ao ministério. Segundo ela, gostaria que sua pasta fosse chamada de "ministério da vida e da alegria".

— E por falar em vida, eu falo em vida desde a concepção. Queria que nosso ministério fosse chamado de ministério da vida e da alegria, mas não pode. Se depender desse ministério, sangue inocente não será mais derramado — avisou. Damares também quase chorou quando falou da filha, que, segundo ela, “por recomendação”, não foi ao evento prestigiar a mãe por ter sido ameaçada de morte. 

— Já dormi na rua para proteger meninos e meninas de rua. Já caminhei com os perseguidos,  já apanhei da polícia. Queriam nos matar, disseram que iam nos matar. Por recomendação, minha filha não pode estar aqui. Te amo Lulu — declarou.

A ministra disse que "é uma ordem" que todos os funcionários do ministério aprendam em seis meses a Língua dos Sinais (Libras). Ela aproveitou para anunciar que nos próximos meses o governo regulamentará a Lei Brasileira de Inclusão, que trata das pessoas com deficiência.

— É um novo tempo para as pessoas com deficiência — afirmou.
Ela também anunciou que a secretária nacional das mulheres será Tia Eron, a deputada que selou o destino do então presidente da Câmara Eduardo Cunha na comissão de ética, em 2016, afirmando que "Não mandam nessa nega aqui". Damares disse que vai lutar "contra os preconceitos", e que as mulheres não serão usadas como "massa de manobra", e que irá perseguir salários igualitários entre homens e mulheres.

— Nossas mulheres terão prioridade e não serão usadas como massa de manobra — disse.
Ao fim de seu discurso, Damares narrou os horrores do infanticídio indígena, citando etnias que enterram vivas crianças que nascem com algum tipo de deficiência. Ela disse que sua pasta irá atrás dos ciganos e índios oferecer ajuda.

— Quando se enterra uma criança viva ela não morre na hora. Ela chora debaixo da terra. É o choro que os ministros anteriores não acreditaram. É o choro que o grande tupã escuta. E o grande tupã ama curumim. Chega de choro de curumim. Eis que surge o ministério da família e da alegria — encerrou, sob fortes aplausos.
Damares recebeu os cumprimentos dos presentes no palco montado no auditório lotado do ministério. Após alguns minutos, ela saiu e um funcionário informou ao microfone que por  “razões de segurança” ela havia se retirado e não voltaria mais.

Fonte: O Globo


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