Ele foi estudar numa escola pública do Jordão e agora está fazendo mestrado na melhor escola de bandidos do Acre, que é a penal de Tarauacá. Se você precisar de mais depoimentos meus pode me ligar a cobrar, que terei o maior prazer de conversar com você
Aquele abraço
Txai Terri Vale de Aquino"
Notas do antropólogo
"Passei Natal, Ano Novo e Reis nas aldeias Yawanawá e na prisão de Tarauacá (penal) visitando meu filho Irineu Kaxinawá, 19 anos, supostamente envolvido num furto numa loja do município de Jordão, no Acre.
Irineu está preso há quatro meses na penal de Tarauacá. Seu crime foi o de ter ajudado o seu primo (txai) José Vagner Kaxinawá (menor) a esconder um roubo (roupas e bijuterias sem valor) na casa de seu avô Getúlio Sales, liderança tradicional Kaxinawá do Rio Jordão.
Até 2010, Irineu vivia na aldeia Nova Empresa, na Terra Indígena Kaxinawá do Baixo Rio Jordão e falava português com muita dificuldade. Foi estudar na cidade e, por ingenuidade, acabou entrando numa roubada. Sobrou pra ele, porque o primo era menor de idade.
Conversei com um desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Acre, com a juíza de Tarauacá, com o diretor da penal, com o defensor público de Tarauacá, com o advogado Gumercino, de Rio Branco, com Henrique Corinto, da Secretaria de Direitos Humanos do Acre. E mesmo assim não consegui soltar o Irineu.
A juíza de Tarauacá, uma ex-delegada do interior do Amazonas, negou a liberdade provisória de Irineu, isto é, para responder o processo em liberdade.
A juíza alegou que ele era um elemento perigoso para a sociedade acreana, podendo reincidir em novos crimes contra a propriedade privada e constranger as testemunhas, que até hoje não foram ouvidas, por falta de recursos do Tribunal de Justiça.
A juíza alegou que ele era um elemento perigoso para a sociedade acreana, podendo reincidir em novos crimes contra a propriedade privada e constranger as testemunhas, que até hoje não foram ouvidas, por falta de recursos do Tribunal de Justiça.
Irineu acabou envolvido num processo kafkiano. E eu nunca tinha passado um Natal e Ano Novo tão triste como estes.
Sei que tem mais de 2 mil índios presos atualmente no Brasil, inclusive o meu moleque Kaxinawá que está sendo punido com muito rigor pela Justiça do Acre.
Aí eu fiquei pensando com os meus botões:
- Puxa vida, passei boa parte da minha vida ajudando os índios do Acre a conquistar partes de suas terras e de seus direitos e agora meu filho índio encontra-se preso há tanto tempo. E sem pespectitva de sair tão cedo da prisão.
Se ele errou, e até acredito que tenha errado mesmo, a Justiça acreana poderia dar uma chance de recuperação a esse jovem índio de apenas 19 anos. E não ser assim tão rigorosa com um "ladrãozinho de galinha". Poderia dar uma pena mais branda como, por exemplo, a de prestar serviços comunitários na cidade de Jordão.
Estou abrindo o meu coração publicamente, mas não estou interessado em piedade de ninguém. Estou apenas atrás de Justiça para o meu moleque.
O Acre é cruel. E tem proporcionalmente a maior população carcerária do Brasil. E esse caso do Irineu me dá muita vergonha de ser acreano.
E olhem que sou amigo há muito tempo do desembargador Arquilau de Castro Melo, a maior autoridade do Judiciário acreano.
O Irineu é réu primário, nunca se envolveu antes em nenhum crime contra a tal sociedade acreana, seu ato não envolveu nenhum tipo de violência contra nenhuma pessoa ou bicho do longínquo município acreano de Jordão.
E por que ele continua preso igualmente ao Hildebrando Pascoal que matou muita gente com motosserra?
Está legal, eu aceito o argumento de que a Justiça seja cega, mas a do Acre não distingue "ladrão de galinha" de "ladrão que rouba milhões de dinheiro público".
Perguntem se tem pelo menos um deste último tipo de ladrão preso no Acre. E por aqui, em Brasília? Tem ministro que sai como ladrão e não vai preso. Agora pobres, índios e negros, meus amigos, as nossas prisões estão cheias.
Soltem o Irineu! Justiça para um jovem kaxinawá, de 19 anos, preso há quatro meses na penitenciária de Tarauacá, por ter ajudado seu primo a guardar roubo de pouco valor na casa de seu avô, um homem íntegro, que nunca se envolveu com nenhum tipo de roubo. Punir assim um índio tão rigorosamente não é fazer Justiça.
E que Deus proteja meu filho Irineu Kaxinawá da Justiça cruel dos homens de pouca fé (ou de por café?). Punir desse jeito, não é fazer justiça. Soltem meu moleque. “Mas façam-no prestar serviços comunitários a seu povo kaxinawá de Jordão.”
Fonte blog do Altino
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