A apresentadora do Fantástico, Poliana
Abritta, foi a Curitiba para uma entrevista com o juiz Sérgio Moro, que está de
mudança pra Brasília a partir de janeiro. Ele assume o Ministério da Justiça e
Segurança Pública. Sob elogios e críticas, o juiz Sérgio Moro aceitou o convite
do presidente eleito Jair Bolsonaro.
Poliana Abritta: O que foi decisivo,
juiz, pra esse sim?
Sérgio Moro: O grande motivador dessa
aceitação do convite foi a oportunidade de ir a Brasília numa posição de poder
elevada de ministro da Justiça e poder implementar com essa posição uma agenda
anticorrupção e uma agenda anticrime organizado que não se encontram ao alcance
de um juiz de Curitiba, mas podem estar no alcance de um ministro em Brasília.
Poliana Abritta: O senhor conversou com
familiares ou fez uma reflexão sozinho?
Sérgio Moro: Conversei com amigos, com
pessoas experientes, conversei também com a minha família. Na verdade, dos
amigos, os conselhos foram diferenciados. Alguns me recomendaram que não,
outros me recomendaram que sim.
Poliana Abritta: Teve algum momento que
o senhor pensou em dizer não?
Sérgio Moro: Sim, isso foi tudo muito
novo. Uma semana antes do segundo turno, dia 23 de outubro, eu fui procurado
pelo futuro ministro da Economia, o senhor Paulo Guedes, com uma sondagem.
Confesso que eu vi essa sondagem e fiquei tentado. Aguardei o encerramento das
eleições. E tudo foi decidido, na verdade, no dia 1º de novembro.
Nesse dia, o juiz foi visitar o
presidente eleito Jair Bolsonaro na casa dele, no Rio de Janeiro. Saiu de lá
como futuro ministro.
Sérgio Moro: O que eu percebia nas
pessoas comuns era um certo entusiasmo, um desejo de que eu aceitasse esse
convite. As pessoas me procuram, me cumprimentam. Pra mim, é um sinal de que há
uma grande expectativa. E espero corresponder a essa expectativa.
Poliana Abritta: O ex-ministro do
Supremo Tribunal Federal Ayres Britto disse que essa mudança rápida do senhor
da Justiça pro Executivo, "comprometeria a separação e independência dos
Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário". O que senhor tem a dizer sobre
isso?
Sérgio Moro: Tenho grande respeito pelo
ex-ministro Ayres Britto. Eu acho que a avaliação dele, nesse caso, está
equivocada. Existe essa fantasia de que o ex-presidente Lula, que foi condenado
por corrupção e lavagem de dinheiro, teria sido excluído arbitrariamente das
eleições por conta do processo criminal. Mas o fato que ele tá condenado e
preso porque ele cometeu um crime.
Poliana Abritta: A defesa do
ex-presidente Lula entrou com um novo pedido de habeas corpus pela liberdade
dele e pela anulação da ação penal do caso do tríplex. E o principal argumento
é de que houve "irremediável perda da imparcialidade". O senhor, em
algum momento, temeu colocar em risco todo o trabalho feito até agora ao
aceitar o convite pro ministério?
Sérgio Moro: Não. Veja, essa questão
pertence hoje às cortes de Justiça, não mais a mim. Mas eu proferi a decisão em
relação ao ex-presidente Lula em meados de 2017. Então, assim, eu nem conhecia
o presidente eleito Jair Bolsonaro. Eu sopesei essas questões, também levei em
conta. Mas, pelo que eu vejo nas pessoas comuns, que eu encontro por aí,
ninguém tem essa sombra de desconfiança.
Na sexta-feira, depois desta
entrevista, o Conselho Nacional de Justiça solicitou que Sérgio Moro preste
informações por "suposta atividade político-partidária" ao aceitar o
convite para ser ministro. O juiz terá 15 dias para se manifestar.
Sérgio Moro: Eu estou indo pra
consolidar os avanços da Operação Lava-Jato em Brasília.
Leia a entrevista na integra no G1.com
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